18 de mai. de 2011

O Ministério da Educação e Cultura adverte: escrever errado é correto.

Não sei se é "Por uma vida melhor" ou pior, mas o livro didático adotado pelo Ministério da Educação e Cultura causou muita indignação na sociedade brasileira desde que começou a ser distribuído em algumas escolas públicas do país. O livro se refere à concordância inadequada do verbo - como no exemplo a seguir: ”Os livro ilustrado mais interessante estão emprestado”, porém o interlocutor deve tomar cuidado para não sofrer preconceito linguistico,advertem.



(Luciana Tannus)




Interprete melhor essa questão sob o ponto de vista de Clovis Rossi:

17/05/2011

às 18:18 \ Direto ao Ponto

Clovis Rossi

www.veja.com.br

A indignação dos brasileiros sensatos detém a ofensiva dos professores de ignorância



“Por que, em educação, todo mundo acha que conhece os assuntos e pode falar com propriedade? “, irritou-se a professora Heloísa Ramos. “Esse assunto é complexo, é para especialistas”. Segundo a autora de “Por uma vida melhor”, um linguista tem o direito de ensinar que falar errado está certo sem que ninguém tente defender o idioma e os estudantes. Feito o preâmbulo, Heloísa baixou o decreto: “Eu não admito mais que alguém escreva que nosso livro ensina a falar errado ou que não se dedica a ensinar a norma culta”.

Tão infeliz quanto a já famosa ”Os livro ilustrado mais interessante estão emprestado”, abre-alas do desfile de absurdos patrocinado pelo Ministério da Educação, a frase foi pulverizada por quem trata o português com o carinho que lhe negam os demagogos da linguística. Três exemplos:

Merval Pereira, colunista de O Globo: “A pretexto de defender a fala popular como alternativa válida à norma culta do português, o Ministério da Educação está estimulando os alunos brasileiros a cultivarem seus erros, que terão efeito direto na sua vida na sociedade e nos resultados de exames, nacionais e internacionais, que avaliam a situação de aprendizado dos alunos, debilitando mais ainda a competitividade do país”.

Marcos Vilaça, presidente da Academia Brasileira de Letras: “Discordo completamente do entendimento que os professores que fizeram esse trabalho têm. Uma coisa é compreender a evolução da língua, que é um organismo vivo, a outra é validar erros grosseiros. É uma atitude de concessão demagógica. É como ensinar tabuada errada. Quatro vezes três é sempre 12, na periferia ou no palácio”.

Clóvis Rossi, colunista da Folha de S. Paulo: “Os autores do crime linguístico aprovado pelo MEC usam um argumento delinquencial para dar licença para o assassinato da língua: dizem que quem usa ‘os livro’ precisa ficar atento porque ‘corre o risco de ser vítima de preconceito linguístico’. Absurdo total. Não se trata de preconceito linguístico. Trata-se, pura e simplesmente, de respeitar normas que custaram anos de evolução para que as pessoas pudessem se comunicar de uma maneira que umas entendam perfeitamente as outras (…) Que os professores prefiram a preguiça ao ensino, já é péssimo. Que o MEC os premie, é crime”.

Suponha-se que um ex-aluno de Heloísa Ramos resolva dispensar a norma culta na defesa oral de uma tese de doutorado. Suponha-se que faça parte da banca examinadora algum sacerdote da seita que acredita que na linguagem popular, como nos piores bordéis, tudo é permitido ─ as regras só valem para a linguagem escrita. Suponha-se que o expositor decida começar a apresentação saudando os integrante da mesa e os professor presente. Como reagiria o linguista do povo? Com aplausos e gritos de “bravo!”? Ou com um pedido antecipado de desculpas ao candidato a doutor condenado à reprovação?

Indiferente a exemplos do gênero, surdo ao coro dos sensatos, o MEC comunicou que não pretende recolher os exemplares distribuídos a 485 mil estudantes, jovens e adultos, pelo Programa Nacional do Livro Didático. A escolha das obras é feita por professores universitários, esclareceu um dos porta-vozes do subitamente silencioso Fernando Haddad. “Por uma vida melhor”, por exemplo, teve o aval de um grupo de docentes da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. É preciso respeitar o endosso da junta de acadêmicos.

O MEC vai acabar mudando de ideia por força de ações judiciais, previne a procuradora Janice Ascari, do Ministério Público Federal. Aturdida com o que leu, Janice mandou um recado em bom português aos editores e autores: “Vocês estão cometendo um crime contra os jovens, prestando um desserviço à educação e desperdiçando dinheiro público com material que emburrece em vez de instruir”. Os livro pode ser emprestado a quem os autor quiser. Mas os brasileiros que mantêm o juízo e cada plural em seu lugar não vão admitir o triunfo dos professores de ignorância.

3 comentários:

Jairo Teixeira Mendes Abrahão disse...

Luciana Tannus.
Pelas fotos parece-se com uma menina, mas como tem um blog chamado "Gramática" não deve ser!
Em primeiro lugar digo-lhe que amo Aracaju! E moro em Porto Seguro!!
Luciana, pelo menos a capa do livro voce viu, porque não deve te-lo lido! Ou se o fez, não entendeu nada! E, ainda por cima recomenda e republica o artigo de Clovis Rossi que, alem de dizer barbaridades ainda se apoia em merval pereira!!!!!!! A Sociedade brasileira está indignada, sim! Mas não com o livro e sim com os que o criticaram, sem lê-lo! Leia em Com Texto Livre ou no Blog do Paulinho(27/05) texto sobre jornalistas com falta de Letramento.
É lamentável que pseudo intelectuais critiquem um livro sem lê-lo! Até o Presidente da Academia Brasileira de Letras!!! Tambem, depois que "escolheram" merval pereira como "imortal", em detrimento de Antonio Torres, literato premiado aqui e no exterior, com dezenas de livros publicados e, alguns trduzidos em muitos paises!
Não me queira mal! Só,como muito mais velho que voce, tento abrir-lhes os olhos!

Jairo

Paulo Cavalcanti disse...

Prezada Luciana,

Agradeço sua postagem, no blog do Paulinho, referente a essa questão do livro didático.

Fiquei lisonjeado com sua postagem, pois sou um cidadão que adora escrever, porém cursei somente até a 6ª série do ensino fundamental, fato que as vezes me deixa inseguro em escrever para um público de mais de 100 mil visitas em meu blog.

Vez por outra, levo altos paus, em escorregadas linguísticas que dou em textos que as vezes posto meio na correria do dia-a-dia de SP.

Achei contudente suas observações, e como uma pessoa que é técnica em língua portuguesa, sempre que ver algo errado em meus textos, fique absolutamente à vontade em sugerir as devidas correções.

Quanto aos comentários gerais, sobre o livro didático em pauta, suas observações, são absolutamente perfeitas.

Um grande abraço,
Paulinho

Luciana Tannus disse...

Achei pertinente a sua crítica e ao mesmo tempo achei que você fosse me massacrar, jairo (rsrsrs). Mas nem eu mesma emiti alguma opinião sobre o livro, nem mesmo, um posicionamento, apenas uma introdução e uma exposição de Clóvis Rossi. Fiquei neutra, apesar do título. Mas se me permite, vou tentar me explicar: não li o livro e nem foi preciso. Fui professora estagiária por alguns anos e sei bem como funciona a lingüística, a sua dinâmica. Não sou contra a disciplina, o que me preocupa é a forma como isso tem sido exposto aos alunos, visto que, já existe uma dificuldade muito grande por parte deles em apreender a Língua Portuguesa, o que dirá a Lingüística. O que tem que ficar claro é que a Língua Portuguesa tem suas variantes e a usamos de acordo com os contextos. É ridícula esta briga eterna entre gramáticos e lingüistas, um querendo sobrepor ao outro o tempo inteiro, isso não passa de capricho. Mas digo-lhe que, é importante que se aprenda a norma culta sim, pois vamos utilizá-la em nosso trabalho, em discursos, em defesa de nossas teses... Em várias situações que exijam a formalidade, a técnica, a regra, enfim... Por outro lado, devemos saber que a Língua é diacrônica, não é algo estático, ela sofre mudanças com o passar do tempo, mudanças que geralmente vêm facilitar a nossa vida, como no exemplo: tenere > têer > teer > ter.
Para um lingüista é muito mais interessante estudar como a língua funciona, seus motivos sócio-culturais, suas variações, do que se ater a norma padrão. A lingüística nos proporciona a liberdade de estar em uma roda de amigos sem nos preocuparmos em falar com melindres, regras, concordâncias e afins. Por que não andarem de mãos dadas, a Língua Portuguesa e a Lingüística?
Pois bem Sr. Jairo Teixeira, fiz o que me recomendou li a matéria de Paulinho, o que sempre me agrada. Mas devo-lhe dizer que não sou tão nova como pensa. (rsrsrs)